Em um cenário aflorado, veja a melhor forma de conduzir o assunto para se preservar.

Há quatro anos, o país já estava dividido sobre quem governaria o país. Com 98% da apuração das urnas do segundo turno, em outubro de 2014, ainda não havia um resultado fechado. Dilma Roussef (PT) se tornou presidente com 51,64%, superando Aécio Neves (PSDB), com 48,36%. Diferença pequena, mas extremamente significativa, que expôs uma ruptura entre os brasileiros, e que mais tarde desencadeou uma série de acontecimentos históricos.

Desde então, as discussões sobre política são cada vez mais acaloradas e, muitas vezes, desrespeitosas, principalmente nas redes sociais. Com os pré-candidatos favoritos tão opostos em suas ideologias e propostas, a fenda que divide o país de Norte a Sul se alargou a ponto de romper amizades antigas e de tornar inevitáveis as brigas no almoço de família.

O debate exaltado alcançou também salas de reuniões, conversas no cafezinho, almoços com chefes e colegas e, até mesmo, os momentos com os clientes. Assim, o desafio hoje é equilibrar as convicções políticas sem se queimar na rede de contatos profissionais. Nessa administração das paixões políticas no meio corporativo, há três pontos relevantes: o que a empresa pode ou não fazer; as discussões dentro do trabalho; e a posição e a exposição nas redes sociais.

Artur Gomes, sociólogo e professor da Estácio, explica que a empresa não pode proibir a expressão de seus funcionários, especialmente nas páginas pessoais, e, muito menos, tentar influenciar o voto dos empregados. Na prática, porém, todos estão de olho nas pessoas ao redor, sejam colegas, subordinados, chefes, clientes ou fornecedores.

— Existe uma garantia institucional de liberdade, inclusive de ideologia política, tanto do empregador quanto do empregado. Acontece que nenhum direito é absoluto, então é preciso ter seriedade e bom senso — reflete.

Helena Magalhães, sócia da People Oriented, empresa especializada no recrutamento de executivos, acrescenta que em algumas áreas e cargos específicos, que trabalham diretamente com eleições e candidatos, a instituição pode orientar que se evite a exposição. Porém, nunca em quem votar.

— São poucas as empresas que lançam comunicados oficiais sobre a exposição, mas existe um bom senso de não ficar se expondo em excesso. No caso do recrutamento de executivos, o que percebemos é que quanto mais neutro melhor, pois um funcionário em posição estratégica precisa transitar nos dois lados — diz Helena.

OLHA A COMPOSTURA!

Entre colegas e clientes, tudo bem revelar o candidato ou a posição política preferidos. Mas, segundo os especialistas, a melhor saída ainda é evitar discussões. O professor ressalta que não é apenas falar sobre política, mas as consequências que isso gera.

Ele defende que todos tenham o direito de expôr suas convicções, sejam elas políticas ou não, mas há que ter cuidado no ambiente corporativo: hoje as pessoas não estão mais dialogando e, numa simples conversa, o profissional pode perder a compostura.

— Houve uma cegueira ideológica em que só se veem os erros do outro. Muitas vezes começa com uma conversa ou envio de mensagem no WhatsApp, e as pessoas vão aflorando e extrapolando a ponto de xingarem umas as outras. Isso pode causar uma demissão por justa causa. Lugar de trabalho é para trabalhar, deixa para fazer militância na casa, na rua ou com amigos, pois isso pode gerar clima ruim e desencadear conflitos desnecessários — pontua o sociólogo.

DIALOGAR COM RESPEITO: CONSEGUE?

Alguns acreditam que expôr seu voto nas redes sociais é algo entre bom e aceitável. Isso, contudo, depende de como a posição política é exposta, do cargo do funcionário e da área em que atua. Compartilhar notícias falsas, xingar o partido ou candidato oponente e entrar em discussões fervorosas para impôr sua vontade são como queimar um longa-metragem inteiro.

— Há muitos casos na Justiça de chefes e colegas que começaram ofensas, por um assunto qualquer, em grupos de conversa. Mesmo pessoal, a rede social é um território público. Por isso, o profissional tem que lembrar que tudo o que escreve é um registro e que, embora tenha o direito de postar suas crenças, não pode difamar os outros — afirma o sociólogo Artur Gomes.

Para Helena Magalhães, o problema não é expressar-se, mas como fazê-lo:

— Apresentar as suas ideias de uma forma clara, sem radicalismo ou briga não tem problema. Deve ser como o futebol: mesmo no trabalho, as pessoas não deixam de falar no tema, mas existe um respeito. As discussões sobre política deveriam convergir para algo similar.

Fonte-adaptação: oglobo.globo.com